quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Até onde vai o tal do "envolvimento"?


Chego tarde, pretendo escrever pouco.

Mas não poderia ir dormir sem despejar aqui meus pensamentos, na tentativa de compartilhar com alguém o que acredito, o que vem à minha mente, na esperança de que seja como um eco: onda de som que vai e volta, sem vácuo.

A pergunta que me faz sentar foi justamente essa: até onde vai o envolvimento? Até onde nos entregamos? Até onde nos deixamos fazer parte da história de alguém? "Até onde queremos", pra mim, é a resposta. Sem rodeios.

Ontem, a leitura do "O menino do pijama listrado" me absorveu por quase uma hora, tempo precioso do meu sono da madrugada. O fato foi que o narrador soube me "pegar de jeito"; me envolveu e lutei para me libertar da leitura, sofri por colocar o livro no criado-mudo e apagar as luzes. Acho que eu estava em busca desse livro e não o culpo por me escravizar até a última página.

A pergunta do título de hoje tem tudo a ver com o livro e comigo. Quem já leu, e lembra, entende: qual a conseqüência de se envolver na vida, nos problemas do outro-que-me-importa? Como não podemos nos envolver? Sinceramente, pra mim é inevitável. Não consigo não me envolver. Acho que isso me aproximou do narrador e fez sentir na alma a dor e o sofrimento de todos aqueles com quem não nos envolvemos, quando o menino de pijama listrado "levantou a cerca e estendeu a mão, tocando nele pela primeira vez"...

Vou em direção ao quarto, rumo ao último capítulo. Espero pegar no sono pensando que se envolver é um dos motivos para estarmos aqui.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A dança e eu

Dança e Tati Wippel se misturam.
Uma dentro da outra.
Muitas vezes uma só.

"Dançar é escrever com o corpo"

Dançar é tocar música com gestos, com os pés, absolutamente sem voz,
na arrasadora maioria das vezes.
Dançar é interpretar com oscilações impressionantes ao nosso olhar surpreso,
pois temos os pés no chão e as nuances da mensagem, do enredo,
da palavra e das formas desenhadas no espaço...
O corpo é o instrumento dos dançarinos:
suas mãos-libélulas, suas mãos-borboletas, suas mãos-colibris
escrevem versos no ar...
Seus pés com centenas de micro-fraturas, seguem itinerários que a cada instante
recomeçam e recomeçam, e se repetem...
A coluna é de borracha, de látex, de seda...
Curva-se, encaixa-se, projeta-se. e como dói, mas que importa, se é o centro da soma?...
O rosto parece cheio de luz e não revela os sofrimentos nem os cansaços...
Há um sol em cada um dos olhos, às vezes, um luar de ouro, pois sempre brilham de prazer, no vício sagrado impossível de desfazer.
A dançarina é feita de retalhos das deusas, lançados pela Terra, para que não possam ser esquecidos em sua divindade...
A dançarina tem um pouco de ave e de borboleta ou libélula, ou pluma, ou floco de algodão, ou pétala, a dançar na luz...
(Clevane Pessoa de Araújo Lopes)

É dia de mudança!

Conforme li ontem em um site, "Times change, and people change with them...".
Hoje é dia de mudar, de começar uma atividade nova. Escrever, ler, ouvir... dar vazão e espaço aos sentidos. Sentir a chuva e sentir o sol. Ambiguidades da vida. Num só dia. Somente isso já não basta para celebrar as sensações? Não somos inertes, somos vivos!
Não vamos deixar o sistema frenético que nos escraviza em horários e responsabilidades apagar isso da nossa memória. Nunca!

No momento, leio o livro O menino do pijama listrado, de John Boyne, que me faz pensar no que consideramos ser uma "pessoa". A impessoalidade transforma um ser humano em coisa, dado, número, fato... Cuidado com a "coisificação". Muitas vezes nem percebemos quando coisificamos as pessoas ao nosso redor. É muito mais simples, não é?

"Bendito é aquele que semeia livros, livros a mão cheia e manda o povo pensar; o livro caindo na alma, é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar."
Castro Alves