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O didatismo do texto literário, que esmiuça cada detalhe dessa nova realidade, é mantido pelo diretor Wagner de Assis (A Cartomante) em sua versão audiovisual. O resultado, ainda que deva encantar quem já conhece a obra original, é redundante e cansativo para quem se interessa por Nosso Lar apenas como cinema. Por exemplo, enquanto André (Renato Prieto) arrasta-se pelo Umbral, com seu olhar de desespero encarando as hostes sem rumo que lamentam seus destinos, a narração em off teima em relatar aquilo que nossos próprios olhos já estão vendo. A solução só piora ainda mais quando personagens professorais (Lísias, Clarêncio, Governador Anacleto...) surgem em cena para, essencialmente, explicar. E explicam tudo, o tempo todo.
A dramaticidade, portanto, é mero pano de fundo para um filme de reafirmação e disseminação da doutrina espírita. Assim, entende-se desde o primeiro frame o apoio da Federação Espírita Brasileira à produção. O que fica difícil compreender é como um filme de uma doutrina tão positiva (a "Lei de Ação e Reação" é algo com que qualquer um pode se identificar) atropele a fé alheia em nome do espetáculo. Não me importei em momento algum com as diversas cenas que insistem em como os céticos estão errados sobre o pós-vida (é papel óbvio do filme tentar me convencer do contrário), mas a chegada ao Nosso Lar das vítimas do Holocausto, estrelas de Davi costuradas no peito e peot no cabelo, é difícil de assistir. Ainda que tente ser respeitosa e solene, a sequência ignora diferenças fundamentais nos conceitos de vida eterna das duas religiões e me pareceu equivocada e invasiva. Não importa o quanto você tenha certeza de suas crenças - elas são suas e não do outro.
Empenho técnico
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Parte dessa verba ficou com o desafio técnico de criar a colônia espiritual - que me lembrou uma mistura de Brasília com Krypton, desenhada a partir de ilustrações mediúnicas - desenvolvida pela canadense Intelligent Creatures. A empresa é conhecida por animar a máscara de Rorschach em Watchmen e criar cenários para A Fonte da Vida e Anjos da Noite: A Rebelião, entre outros projetos. Os takes aéreos da cidade são muito bem realizados, assim como outras sequências que exigem o uso maciço de efeitos especiais. Tudo muito convincente (os interiores, nem tanto). A produção não economizou também na trilha incidental: chamou Philip Glass, um talento (ainda que irregular) de Hollywood. Infelizmente, sua composição para o filme, intrusiva e óbvia, não está entre seus melhores trabalhos. A fotografia, que imprime à obra os tons de capas de publicações religiosas, também contou com talento importado, o suíço Ueli Steiger (10.000 a.C.).
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(Érico Borgo)