quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Amazônia é nossa, sim, senhor!

"De fato, como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.

Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim
como Paris,Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica e sua história do mundo, que deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças, tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"
(Cristovam Buarque, quando questionado sobre a internacionalização da Amazônia)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Você senta na janela do avião?


Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o voo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista, cada vez mais rápido até a decolagem.

Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul... Tudo era novidade e fantasia.

Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia.

No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.

O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.

As poltronas do corredor agora eram exigência. Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo. Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.

Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível. O voo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona. Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.

Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.

Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer. Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.

Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal? Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida.

A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, os amigos , tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.

Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.

Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe. Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos'.
(Alexandre Garcia)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Não leve a vida tão a sério


"Jamais lute com o que não está presente."

"(...) você pode pensar o que quiser sobre as pessoas, mas saiba que isso não vai transformá-las."

"Os problemas nos atingem na medida da nossa preocupação. A chave para se alcançar a fluidez, o repouso e a liberdade interior não é a eliminação de todas as dificuldade externas, mas, sim, o desapego ao padrão de reação a essas dificuldades."

"Existem três coisas que você precisa abrir mão: julgar, controlar e ser o dono da verdade. Livre-se das três e você terá a mente íntegra e vibrante de uma criança."

"(...) em média, uma criança ri mais de 350 vezes por dia, contra dez vezes por dia para um adulto."

"'Estou preocupado com você' é a frase típica de quem tem um ego com tamanho potencial autodestrutivo. As preces que as pessoas religiosas fazem antes de refeições são outro exemplo de mau uso da preocupação. 'Lembremos de todos os que têm fome'. Se, a cada bocado, realmente nos lembrássemos dos famintos, nos alimentaríamos em meio a um conflito imenso. Não haveria nenhuma sensação de comunhão nessa mesa. A generosidade é um ato de felicidade, não uma consequência do medo."

"Trabalhamos para um tirano que não elegemos [o autor fala sobre o ego]."

"Uma forma de libertar um pensamento preocupante é torná-lo consciente. Ao enxergá-lo em sua plenitude, não acreditamos nele, não o desejamos e de bom grado o libertamos."

"Dentro de suas mentes, os que se acham superiores estão em guerra com os outros."

"Observe que sempre que você e seu parceiro têm um dia de união e paz, o dia seguinte é desastroso. São os egos tentando retomar o terreno que perderam. Se você e seu parceiro perceberem a tentativa, ficarão imunes. Afinal, o ego não é uma força exterior. Você o cria e o mantém. Se não quiser, não precisa tê-lo."

"Observe que o momento em que você se torna infeliz normalmente é o momento em que você tenta controlar a outra pessoa."
(Hugh Prather)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Beijo, beijo!


O primeiro beijo é o começo daquela vibração mágica que transporta os amantes do mundo das coisas e dos seres
para o mundo dos sonhos e das revelações ~ Kahlil Gibran

As almas se encontram nos lábios dos enamorados ~ Percy Bysshe Shelley
(1792-1822)

Kiss, beso, kissu, küchen, baiser, tzub, su-ub, pitér, felia, xkyss, potselui, neshiká: beijos em várias línguas.

Poucos prazeres físicos podem ser comparados ao proporcionado por um bom beijo, daqueles demorados, intensos e saborosos, os rápidos e ardentes ou até mesmo o roubado. Um especialista no assunto já catalogou mais de 484 tipos diferentes de beijo...

Segundo os historiadores, antigas civilizações tinham por costume passar alimentos mastigados para os filhos pequenos, boca-a-boca. E isto poderia ocorrer até mesmo entre adultos. O beijo também pode ter nascido de uma necessidade de povos antigos de fazer o aquecimento das vias orais, durante o inverno, soprando ar quente na boca e nas bochechas do outro. Também cogita-se que o beijo venha do costume de algumas sociedades de "provar" o outro com a língua. E isso pode ter chegado na boca. Independentemente de sua origem, o beijo fez o maior sucesso entre a maioria dos povos. Atualmente, é rara a cultura que não tenha no beijo uma tradição. Nem que este seja um simples esfregar de nariz, como o singelo beijinho de esquimó.

O beijo é uma demonstração de intimidade socialmente aceita. E o beijo de língua corresponde a um ato sexual leve. Se o beijo ´esquenta´, o resto então... O beijo tem a ver com conquista, afeto. É por isso que o beijo é praticamente inexistente quando os casais estão em crise, por exemplo.

A palavra beijo é derivada do latim: "basium" é o beijo mais romântico, apaixonado, na boca; "saevium", o beijo delicado e terno; e "osculum", o que é dado na face. O ato em si é capaz de movimentar 29 músculos, 12 dos lábios e 17 da língua. Durante um beijo, a pulsação cardíaca pode subir para algo em torno de 150 batimentos por minuto. Também ajuda a queimar calorias, de três a 15, num beijo bem intenso.


Beijo divino, suave e gracioso.
Ternura sem igual e sonho interminável.
Imagino a tua boca adorável,
E me inebrio de inesgotável gozo.


Cientificamente, o beijo apresenta números interessantes. Quando você beija, está trocando, além de carinho, cerca de 250 bactérias na saliva, 9 miligramas de água, 18 substâncias orgânicas, 7 decigramas de albumina (proteína solúvel em água), 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais. Melhor do que isso é saber que um beijo desencadeia a liberação de substâncias neurotransmissoras que provocam sensação de bem-estar e excitação, como a adrenalina, a dopamina e a serotonina.

Mas qual é o melhor beijo? O melhor beijo é aquele onde há total entrega. Não há quem não saiba beijar; há, sim, bocas, que não se combinam. E aí não adianta querer ensinar o outro a beijar porque estas bocas, na verdade, nunca se combinarão. E quem beija melhor, o homem ou a mulher? A mulher, claro. Ela se entrega para o beijo, está mais acostumada a ceder. O homem, normalmente, não se liga na entrega. Ele vê mais o beijo como uma atividade que precede o ato sexual.

Povos primitivos acreditavam que o beijo funcionava como um mecanismo que tinha a ver com o encontro de almas, ou melhor, com a incorporação delas no momento em que uma pessoa expelia o ar quente da respiração para a boca do companheiro. Na Antigüidade, o beijo na boca era usado para saudar um amigo, desde que este fosse do mesmo nível social, como era o caso dos persas. Pessoas de classes sociais diferentes beijavam-se no rosto.

Na Grécia, beijo na boca é só entre pessoas da mesma família ou amigos bem próximos. Na Inglaterra, por volta do século 12, o beijo funcionava como uma espécie de pacto entre o vassalo e seu senhor, que por sua vez o protegia. O pacto só era quebrado com a morte de um dos dois. Este costume foi abandonado quando chegou a peste.

Na Escócia antiga, ao declarar os noivos marido e mulher, era o padre quem beijava ambos nos lábios. Era um tipo de benção, e dela, acreditavam, dependia a felicidade do casal. Estranho? Mas não era só isso, para a felicidade do casal ficar ainda mais garantida, a noiva deveria beijar todos os convidados do sexo masculino, na boca, claro. Mas beijo era coisa séria mesmo para os italianos do século 15. Se um homem fosse pego beijando uma mulher em público era obrigado a se casar com a donzela.

(Arnaldo Poesia)

Tentar, cair, levantar, sorrir!

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance. Para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência. Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

(Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo, mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo)