segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O que eu sou? Nada... e tudo. Zero e um. Preto e branco!

Você é... (Martha Medeiros)

Você é os brinquedos que brincou,
as gírias que usava,
você é os nervos a flor da pele no vestibular,
os segredos que guardou,
você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema,
você é o renascido depois do acidente que escapou,
aquele amor atordoado que viveu,
a conversa séria que teve um dia com seu pai,
você é o que você lembra.

Você é a saudade que sente da sua mãe,
o sonho desfeito quase no altar,
a infância que você recorda,
a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora,
você é aquilo que foi amputado no passado,
a emoção de um trecho de livro,
a cena de rua que lhe arrancou lágrimas,
você é o que você chora.

Você é o abraço inesperado,
a força dada para o amigo que precisa,
você é o pelo do braço que eriça,
a sensibilidade que grita,
o carinho que permuta,
você é as palavras ditas para ajudar,
os gritos destrancados da garganta,
os pedaços que junta,
você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo,
você é o que você desnuda.

Você é a raiva de não ter alcançado,
a impotência de não conseguir mudar,
você é o desprezo pelo o que os outros mentem,
o desapontamento com o governo,
o ódio que tudo isso dá,
você é aquele que rema,
que cansado não desiste,
você é a indignação com o lixo jogado do carro,
a ardência da revolta,
você é o que você queima.

Você é aquilo que reivindica,
o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta,
você é os direitos que tem,
os deveres que se obriga,
você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca,
você é o que você pleiteia.

Você não é só o que come e o que veste.
Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê.
Você é o que ninguém vê.

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