
Propensão a crer
(Carlos Bernardo González Pecotche)
Toda vez que a propensão a crer se manifesta na pessoa, excitada por algum motivo circunstancial, as faculdades da inteligência ficam afetadas em suas funções, pois se produz o adormecimento temporário da mente.
(Carlos Bernardo González Pecotche)
Toda vez que a propensão a crer se manifesta na pessoa, excitada por algum motivo circunstancial, as faculdades da inteligência ficam afetadas em suas funções, pois se produz o adormecimento temporário da mente.
Esta propensão costuma ter efeitos danosos para a alma, porque, ao provocar a inércia da inteligência, pode levar ao fanatismo, que é a negação da prudência e do bom tino.
Sua causa real é a ignorância. Pode-se observar que quem tem esta propensão revela um estado mental incipiente ou precário.
A propensão a crer é própria de quem não pensa, de quem não quer pensar, seja por hábito, seja por comodismo, e que, antes de se decidir a investigar por si mesmo as questões que o preocupam ou lhe interessam, se atém confiado ao juízo ou opinião alheios. Refratário ao estudo atento, sereno, reflexivo, sua posição revela incapacidade e o expõe a qualquer engano. É comum ao que tem esta propensão mostrar-se fanático de uma idéia, uma crença, etc., estado a que nunca chega o homem acostumado a pensar livremente, a raciocinar com amplitude, a formar para si um juízo consciencioso das coisas.
Já dissemos que o propenso a dar crédito a tudo o que, de um modo ou de outro, lhe chega aos ouvidos, não pensa. Pois bem; ninguém negará que são muitos, no mundo, os que não pensam, donde se deduz que também hão de ser muitos os que servem de veículo a toda idéia, pensamento ou boato que ocorra a uma mente qualquer propagar.
É na infância, quando ainda não despertou no ser a aurora das reflexões e a mente ainda permanece alheia a toda noção de saber, que se costuma introduzir, com o pretenso propósito de resolver sua orientação espiritual, crenças que, ao debilitarem sensivelmente o poder defensivo das faculdades de pensar e raciocinar, agem como fatores que favorecem o desenvolvimento desta propensão. Com isso queremos destacar que a falha em questão tem muitas vezes origem na orientação defeituosa que a criança recebe, quando não é iniciada no uso das faculdades de sua inteligência para que possa discernir, por si mesma, o real do irreal, o verdadeiro do falso, o sensato do absurdo, permitindo-se, ao contrário, que sua mente seja tomada pelas crenças, de fácil assimilação.
Tal como acabamos de expressar, tem-se pretendido resolver por esse meio a orientação espiritual da criança, mas não se vê – e menos ainda se compreende – que com isso é criado para ela um dos problemas mais difíceis que terá de enfrentar quando adulta: o problema da própria capacitação e experiência na condução da vida, especialmente no que diz respeito à parte moral e espiritual do seu ser.
Grandes são as desvantagens que a propensão a crer pode acarretar ao homem, e grande também a insegurança que lhe cria. Isso será melhor compreendido se se tiver presente cada uma de suas conseqüências, e se estas forem comparadas com as bondades que experimenta aquele que sabe, qualquer que seja o terreno em que se coloque ou atue, já que o saber é o conselheiro que, emergindo do interior de nosso ser, nos oferece com toda a amplitude a informação que necessitamos em cada caso.
Quem permite que o saber seja suplantado pela crença não poderá senão aceitar as conseqüências de conduzir-se submetendo o livre-arbítrio à crença abraçada ou inculcada, visto que, no final das contas, isso não é outra coisa que a claudicação da inteligência. O saber que se adquire por meio do estudo e da experiência coloca o homem a salvo dos riscos a que esta propensão o expõe.
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