terça-feira, 14 de dezembro de 2010
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Nosso Lar
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O didatismo do texto literário, que esmiuça cada detalhe dessa nova realidade, é mantido pelo diretor Wagner de Assis (A Cartomante) em sua versão audiovisual. O resultado, ainda que deva encantar quem já conhece a obra original, é redundante e cansativo para quem se interessa por Nosso Lar apenas como cinema. Por exemplo, enquanto André (Renato Prieto) arrasta-se pelo Umbral, com seu olhar de desespero encarando as hostes sem rumo que lamentam seus destinos, a narração em off teima em relatar aquilo que nossos próprios olhos já estão vendo. A solução só piora ainda mais quando personagens professorais (Lísias, Clarêncio, Governador Anacleto...) surgem em cena para, essencialmente, explicar. E explicam tudo, o tempo todo.
A dramaticidade, portanto, é mero pano de fundo para um filme de reafirmação e disseminação da doutrina espírita. Assim, entende-se desde o primeiro frame o apoio da Federação Espírita Brasileira à produção. O que fica difícil compreender é como um filme de uma doutrina tão positiva (a "Lei de Ação e Reação" é algo com que qualquer um pode se identificar) atropele a fé alheia em nome do espetáculo. Não me importei em momento algum com as diversas cenas que insistem em como os céticos estão errados sobre o pós-vida (é papel óbvio do filme tentar me convencer do contrário), mas a chegada ao Nosso Lar das vítimas do Holocausto, estrelas de Davi costuradas no peito e peot no cabelo, é difícil de assistir. Ainda que tente ser respeitosa e solene, a sequência ignora diferenças fundamentais nos conceitos de vida eterna das duas religiões e me pareceu equivocada e invasiva. Não importa o quanto você tenha certeza de suas crenças - elas são suas e não do outro.
Empenho técnico
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Parte dessa verba ficou com o desafio técnico de criar a colônia espiritual - que me lembrou uma mistura de Brasília com Krypton, desenhada a partir de ilustrações mediúnicas - desenvolvida pela canadense Intelligent Creatures. A empresa é conhecida por animar a máscara de Rorschach em Watchmen e criar cenários para A Fonte da Vida e Anjos da Noite: A Rebelião, entre outros projetos. Os takes aéreos da cidade são muito bem realizados, assim como outras sequências que exigem o uso maciço de efeitos especiais. Tudo muito convincente (os interiores, nem tanto). A produção não economizou também na trilha incidental: chamou Philip Glass, um talento (ainda que irregular) de Hollywood. Infelizmente, sua composição para o filme, intrusiva e óbvia, não está entre seus melhores trabalhos. A fotografia, que imprime à obra os tons de capas de publicações religiosas, também contou com talento importado, o suíço Ueli Steiger (10.000 a.C.).
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quinta-feira, 30 de setembro de 2010
O Último Exorcismo

O Último Exorcismo (The Last Exorcism, 2010) é o mais recente exemplo dessa onda. Começa com uma equipe de filmagens acompanhando um pastor exorcista (Patrick Fabian) no que ele espera ser seu último trabalho: ir até uma cidadezinha no sul dos Estados Unidos para desvendar a possessão de uma garota (Ashley Bell). Mas aos poucos, conforme o sjueito, que há anos tira dinheiro dos crédulos sulistas, tenta provar para as câmeras que tal fenômeno não passa de crendice, o cenário começa a parecer cada vez mais estranho. Seria o caso verídico ou mais um trabalho de rotina?

No entanto, como Atividade Paranormal, seu sucessor imediato no gênero, o truque de O Último Exorcismo rapidamente pode ser desvendado. Sem dinheiro não há efeitos especiais, então prepare-se para uma hora de insinuação e expectativa, com direito a close-ups "dramáticos" no rosto da menina encapetada e outras formas de embromação cinematográfica. A produção tem que economizar tudo o que pode até os minutos finais, quando mostrará alguma coisa assustadora de verdade. Curiosamente, nada inédito, já que o filme precisa ser vendido e, como as cenas são as únicas dignas de exposição "marqueteira", você já as conhece do trailer.

Mas o público não deve demorar para perceber que em filmes assim a tosquice é muleta e muito pouco acontece de verdade... é apenas uma questão de tempo até que o gênero se canibalize. E se no começo a produção até se esforça para dar alguma qualidade cinematográfica a O Último Exorcismo, a correria e tremedeira a la Bruxa de Blair do clímax é indefensável. Funcionou no passado, mas eu ficaria irritado em pagar uma entrada de cinema para não ver o que está acontecendo. Até o diabo pega na câmera em determinado momento - e saiba você que ele é péssimo cinegrafista.
(Érico Borgo)
Ei, essa é pra você!
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Ó vida!
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
O Último Mestre do Ar

O filme é baseado nos animes Avatar, que nada têm a ver com o blockbuster de James Cameron. É sobre um mundo constituído de quatro povos distintos, que só ficam em harmonia quando regidos pela força dos avatares, espécie de monges (ou “xerifes cósmicos”, como ironizou um jornal alemão) que têm poder sobre os quatro elementos da natureza – fogo, terra, ar e água.
Há algum tempo, esses mestres estavam desaparecidos, mas a suspeita de que uma de suas reencarnações teria retornado faz com que os povos iniciem uma corrida ao tesouro, uns querendo ajudá-lo a trazer a harmonia de volta ao mundo e outros querendo encontrar o tal mestre para prendê-lo e terem a possibilidade de eles dominarem o mundo com suas máquinas. Uma criatividade só, não?!

M. Night Shyamalan já vinha apanhando da crítica com seus últimos filmes (A Dama na Água e Fim dos Tempos). O Último Mestre do Ar obteve apenas 8% de aprovação no Rotten Tomatoes (site que contém a média de cotação da crítica), um pesadelo para quem já esteve nas listas dos mais promissores diretores de cinema, quando do lançamento de O Sexto Sentido, uma preciosidade do suspense atual.
O problema é que o sujeito não consegue delegar funções: além de dirigir, ele assina o roteiro e produz o filme – e faz questão que todos saibam disso. O resultado já pode ser visto pela triste bilheteria que o título teve nos Estados Unidos.

Tendo como protagonistas uma criança demoníaca (que da bondade de um avatar nada transparece), dois irmãos palermas (que deveriam ser os protetores do avatar, mas são incompetentes para tal) e um vilão sem expressão (Dev Patel, antes a revelação indiana em Quem Quer Ser um Milionário), o filme lota-se de clichês, elos mal desenvolvidos, um roteiro fraquíssimo - inacreditavelmente também assinado pelo Shyamalan – e diálogos tão redundantes que beiram o ridículo. A maior parte das falas nem precisava existir. Elas apenas explicam o óbvio, aquilo que já está sendo mostrado em imagens.
A saga de Aang é longa e se passa em um universo complexo. O Último Mestre do Ar sofre da mal que outros começos de franquia já penaram: a necessidade de apresentar todo um cenário fantástico. Quando se tem uma série animada – de onde surgiram os personagens –, a estrutura de episódios funciona para que sejam mostrados elementos do universo sem que se perca o entusiasmo pelos protagonistas. No filme, tudo acaba tendo de ser jogado rapidamente e o mascote de Aang parece apenas ser um figurante de luxo, por exemplo.

Um aviso final: não assista ao filme em 3D! Com tantas opções desse tipo de projeção, é melhor guardar sua verba e investir em títulos que foram realmente pensados para serem apresentados dessa forma. O Último Mestre do Ar foi porcamente convertido para estereoscopia na pós-produção e o efeito é praticamente impercepitível.
(Críticas de Fred Burle e Edu Fernandes)
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Quer coisa melhor?
Simplicidade
Cada semana, uma novidade.
A última, foi que pizza previne câncer do esôfago.
Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema,
qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas, peraí, não exagere...
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.
Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.
Prazer faz muito bem.
Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro, faz-me sentir novo em folha.
Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas, depois, rejuvenesço uns cinco anos !
Viagens aéreas não me incham as pernas,
incham-me o cérebro, volto cheio de ideias !
Brigar, me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez, me embrulha o estômago !
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro, me faz perder toda a fé no ser humano...
E telejornais...
Os médicos deveriam proibir...como doem !
Caminhar faz bem, namorar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem: você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
Acordar de manhã, arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite, isso sim, é prejudicial à saúde. E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda. Não pedir perdão pelas nossas mancadas, dá câncer, guardar mágoas, ser pessimista, preconceituoso ou falso moralista, não há tomate ou muzzarela que previna!
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca.
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é o melhor de tudo e muito melhor do que nada!
(Luís Fernando Veríssimo)
quinta-feira, 29 de julho de 2010
A Amazônia é nossa, sim, senhor!

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.
Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim
como Paris,Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica e sua história do mundo, que deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças, tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Você senta na janela do avião?

Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul... Tudo era novidade e fantasia.
Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia.
No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.
O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.
As poltronas do corredor agora eram exigência. Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo. Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.
Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível. O voo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona. Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.
Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.
Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer. Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.
Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal? Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida.
A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, os amigos , tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.
Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.
Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe. Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos'.
(Alexandre Garcia)
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Não leve a vida tão a sério

"Jamais lute com o que não está presente."
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Beijo, beijo!
O primeiro beijo é o começo daquela vibração mágica que transporta os amantes do mundo das coisas e dos seres
para o mundo dos sonhos e das revelações ~ Kahlil Gibran
As almas se encontram nos lábios dos enamorados ~ Percy Bysshe Shelley
(1792-1822)
Kiss, beso, kissu, küchen, baiser, tzub, su-ub, pitér, felia, xkyss, potselui, neshiká: beijos em várias línguas.
Poucos prazeres físicos podem ser comparados ao proporcionado por um bom beijo, daqueles demorados, intensos e saborosos, os rápidos e ardentes ou até mesmo o roubado. Um especialista no assunto já catalogou mais de 484 tipos diferentes de beijo...
Segundo os historiadores, antigas civilizações tinham por costume passar alimentos mastigados para os filhos pequenos, boca-a-boca. E isto poderia ocorrer até mesmo entre adultos. O beijo também pode ter nascido de uma necessidade de povos antigos de fazer o aquecimento das vias orais, durante o inverno, soprando ar quente na boca e nas bochechas do outro. Também cogita-se que o beijo venha do costume de algumas sociedades de "provar" o outro com a língua. E isso pode ter chegado na boca. Independentemente de sua origem, o beijo fez o maior sucesso entre a maioria dos povos. Atualmente, é rara a cultura que não tenha no beijo uma tradição. Nem que este seja um simples esfregar de nariz, como o singelo beijinho de esquimó.
O beijo é uma demonstração de intimidade socialmente aceita. E o beijo de língua corresponde a um ato sexual leve. Se o beijo ´esquenta´, o resto então... O beijo tem a ver com conquista, afeto. É por isso que o beijo é praticamente inexistente quando os casais estão em crise, por exemplo.
A palavra beijo é derivada do latim: "basium" é o beijo mais romântico, apaixonado, na boca; "saevium", o beijo delicado e terno; e "osculum", o que é dado na face. O ato em si é capaz de movimentar 29 músculos, 12 dos lábios e 17 da língua. Durante um beijo, a pulsação cardíaca pode subir para algo em torno de 150 batimentos por minuto. Também ajuda a queimar calorias, de três a 15, num beijo bem intenso.
Beijo divino, suave e gracioso.
Ternura sem igual e sonho interminável.
Imagino a tua boca adorável,
E me inebrio de inesgotável gozo.
Cientificamente, o beijo apresenta números interessantes. Quando você beija, está trocando, além de carinho, cerca de 250 bactérias na saliva, 9 miligramas de água, 18 substâncias orgânicas, 7 decigramas de albumina (proteína solúvel em água), 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais. Melhor do que isso é saber que um beijo desencadeia a liberação de substâncias neurotransmissoras que provocam sensação de bem-estar e excitação, como a adrenalina, a dopamina e a serotonina.
Mas qual é o melhor beijo? O melhor beijo é aquele onde há total entrega. Não há quem não saiba beijar; há, sim, bocas, que não se combinam. E aí não adianta querer ensinar o outro a beijar porque estas bocas, na verdade, nunca se combinarão. E quem beija melhor, o homem ou a mulher? A mulher, claro. Ela se entrega para o beijo, está mais acostumada a ceder. O homem, normalmente, não se liga na entrega. Ele vê mais o beijo como uma atividade que precede o ato sexual.
Povos primitivos acreditavam que o beijo funcionava como um mecanismo que tinha a ver com o encontro de almas, ou melhor, com a incorporação delas no momento em que uma pessoa expelia o ar quente da respiração para a boca do companheiro. Na Antigüidade, o beijo na boca era usado para saudar um amigo, desde que este fosse do mesmo nível social, como era o caso dos persas. Pessoas de classes sociais diferentes beijavam-se no rosto.
Na Grécia, beijo na boca é só entre pessoas da mesma família ou amigos bem próximos. Na Inglaterra, por volta do século 12, o beijo funcionava como uma espécie de pacto entre o vassalo e seu senhor, que por sua vez o protegia. O pacto só era quebrado com a morte de um dos dois. Este costume foi abandonado quando chegou a peste.
Na Escócia antiga, ao declarar os noivos marido e mulher, era o padre quem beijava ambos nos lábios. Era um tipo de benção, e dela, acreditavam, dependia a felicidade do casal. Estranho? Mas não era só isso, para a felicidade do casal ficar ainda mais garantida, a noiva deveria beijar todos os convidados do sexo masculino, na boca, claro. Mas beijo era coisa séria mesmo para os italianos do século 15. Se um homem fosse pego beijando uma mulher em público era obrigado a se casar com a donzela.
(Arnaldo Poesia)
Tentar, cair, levantar, sorrir!

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance. Para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência. Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
(Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo, mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo)
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Conselho do Pequeno Príncipe II
Sexualidade Feminina - um breve histórico
"Nos lençóis macios, amantes se dão", como na canção de Roberto e Erasmo. Bonito, não? Mas foi preciso percorrer um longo caminho para que a brasileira visse os "travesseiros soltos" e as "roupas pelo chão". A ruptura só começou no fim dos anos 1960, e se consolidou nos anos 1970 e 1980. Antes, a mulher vivia em um mundo no qual manter as aparências de moça de família era fundamental. Nada de "proceder mal". A felicidade conjugal, do ponto de vista feminino, era ser complemento do marido no cotidiano doméstico, dormir de camisola e fazer amor à meia-luz. Nudez total? Só no escuro. Nada de acrobacias eróticas. Fundamental mesmo era ter bom senso: no caso de traição por parte do marido, "fingir ignorar tudo e esmerar-se na aparência para atraí-lo", como sugeriam as revistas femininas. As mesmas que definiam o bem-estar masculino como o bem supremo. E, para atingir tal bem-estar, qual a receita? Conquistar pelo coração e prender pelo estômago. Jamais discutir por dinheiro. Não se precipitar para abraçá-lo quando começasse a ler o jornal. E não contrariá-lo nem quando quisesse fumar um charuto, antes de dormir com luz acesa. Brigas entre o casal? A razão era sempre dele. Mas, se razões houvesse, ela tinha de resignar-se em nome da tal felicidade. O melhor era usar o "jeitinho": assim o marido cedia. Nada de enfrentamentos ou franqueza exagerada. Afinal, o temperamento poligâmico do homem explicava tudo. Em meados do século XX, continuava-se a acreditar que ser mãe e dona de casa era o destino natural da mulher. Já a iniciativa, a participação no mercado de trabalho, a força e o espírito de aventura definiam a masculinidade.
A chegada maciça da pílula anticoncepcional às farmácias, na virada dos 60 para os 70, representou a antessala da chamada revolução sexual. Livre da sífilis, e ainda longe da aids, a jovem podia provar de tudo. O rock’n’roll introduziu a agenda: férias, velocidade e o lema "amai-vos uns sobre os outros". A batida e as letras indicavam a rebeldia diante da autoridade do mundo adulto. Nas capitais e nos meios estudantis, a moça escapava às malhas apertadas da família. Encontros em festas, festivais de música, atividades esportivas e clubes noturnos deixaram-na cada vez mais solta. Saber dançar tornou-se o passaporte para o amor e a tentativa de adaptação a um mundo novo e esforçadamente rebelde.
Carícias se generalizavam. Na cama, novidades. A sexualidade, graças aos avanços da higiene íntima, se estendia ao corpo inteiro. Preliminares ficaram mais longas. Na moda, a minissaia começou a despir os corpos. Lia-se Wilhelm Reich, para quem o nazismo resultou da falta de orgasmos. A ideia de que os casais, além de amar, deviam ser sexualmente equilibrados começava a ser discutida por algumas "prafrentex", como se dizia. Era o início do direito ao prazer para todos, sem que a mulher fosse atormentada por se interessar por alguém.
A imprensa da época revelava idas e vindas do "casal moderno". As reportagens anunciavam a necessidade de a mulher conhecer a si mesma (e aos homens). Afinal, ela já estava "cansada das angústias que a marcaram por tanto tempo". Quanto à "dificuldade de ser fiel", eis a conclusão de um texto de jornal daquele tempo: "Ora, a imagem da mulher emancipada não suprime a imagem da mulher essencialmente pura, basicamente fiel". Quanto ao homem, sua infidelidade seguia intocável. Havia ambiguidade semelhante em relação ao feminismo: se a mulher deixou de baixar a cabeça para passar a dizer "eu quero, eu posso, eu vou fazer", os primeiros sinais de desprezo pelo movimento não tardaram.
A imprensa feminina, reflexo natural da sociedade, continuou a investir na figura da mãe e da dona de casa. Só que, agora, angustiada. Questionada pelos filhos e ameaçada pelas mais jovens, seu horror era "ser trocada por duas de 20". Multiplicavam-se as colunas do gênero "como salvei meu casamento". Para a liberada que aderisse à revolução sexual, não faltavam informações para "entrar no fechadíssimo clube das cabeças que pensam e decidem". Porém, para entrar no tal clube, era preciso ter cabelos esvoaçantes e corpo sedutor. O casal continuava a ser o ponto de referência. E, como antes, o homem era o juiz que avaliava a mulher. Ele era o seu objetivo e razão de ser. E, como antigamente, o "medo de se amarrar" continuava o mesmo. Os argumentos científicos brotavam para ilustrar as diferenças: "Ele tem, biologicamente, o instinto da conquista desde os tempos pré-históricos (...) já a maternidade dotou a mulher de uma estrutura emocional passiva".
Início do século XXI: graças à pílula, o sexo não é mais uma questão moral, mas de bem-estar e prazer. O aumento de divórcios não impede a mulher de recomeçar. Por isso, seu álbum de família contém novos atores: enteados, meios-sogros, produções independentes. Ocupando cada vez mais os postos de trabalho, ela busca o equilíbrio entre o público e o privado. Entre parceiros, surgem regras e práticas mais igualitárias. Graças à independência financeira, ela não fica mais casada por conveniência, dividida entre o desejo de vários parceiros sexuais e a estabilidade necessária aos filhos.
Seu percurso aponta para conquistas, mas também armadilhas. Se a profissionalização trouxe independência, trouxe também stress e exaustão. A desorganização familiar onerou, sobretudo, os mais indefesos: as crianças. A tirania da perfeição física empurrou a mulher não para a busca de uma identidade, mas de uma identificação. O nu, na mídia, despiu seu corpo em público, banalizando-o. Uma estética voltada ao culto da boa forma, fonte de ansiedade e frustração, levou a melhor. No início do século XXI, "liberar-se" tornou-se sinônimo de lutar, centímetro por centímetro, contra a decrepitude. A mulher continua submissa. Agora, não mais ao marido, mas à publicidade. E não há prisão pior do que aquela que não permite mudar nem envelhecer junto com o resto da população.
Nas últimas décadas, ela participou de outro movimento: o que separou a sexualidade, o casamento e o amor. Foi o momento de transição entre a tradição das avós e a sexualidade obrigatória das netas. Ninguém mais quer casar sem "se experimentar". Frigidez, nem pensar. "Ficar e se mandar" é a regra. E só se fala em "sexualidade plural". Separada da procriação, sem culpa, ancorada pela psicanálise e exaltada pela imprensa, a sexualidade da mulher brasileira se tornou assunto obrigatório. Tão obrigatório que chega a entediar. Resta perguntar quem vai lavar, passar e arrumar os tais lençóis macios da cama. Os historiadores de amanhã dirão.
(Mary Del Priore, historiadora, é autora de História das Mulheres no Brasil da Editora Contexto)
Conselho do Pequeno Princípe
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Jó, baixa em mim, por favor!

Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia. Por muito pouco a madame que parece uma "lady" solta palavrões e berros que lembram as antigas "trabalhadoras do cais"...
E o bem comportado executivo? O"cavalheiro" se transforma numa "besta selvagem" no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar... Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma "mala sem alça". Aquela velha amiga uma "alça sem mala", o emprego uma tortura, a escola uma chatice. O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.
Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado.
Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais.
Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus. A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta. Pergunte para alguém, que você saiba que é "ansioso demais" onde ele quer chegar? Qual é a finalidade de sua vida? Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.
E você? Onde você quer chegar? Está correndo tanto para quê? Por quem? Seu coração vai aguentar? Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?
A empresa que você trabalha vai acabar? As pessoas que você ama vão parar?
Será que você conseguiu ler até aqui?
Respire... Acalme-se...
O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência...
NÃO SOMOS SERES HUMANOS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL...
SOMOS SERES ESPIRITUAIS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA HUMANA...
O Destino decide quem Você encontra na vida... Suas atitudes decidem quem fica.
(Arnaldo Jabor)
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Ei, você que pula o meu muro.... Cuidado!

Como chamar a polícia....
Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa.
Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro.
Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranqüilamente.
Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma:
-Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!
Passados menos de 3 minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo.
Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.
No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse:
-Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão.
Eu respondi:
- Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura disponível.
(Luiz Fernando Veríssimo)
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Sem ver, sem preconceito
"King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?
Quem propagou a ideia que "negro" é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: "Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra".
Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, mas sim de burro.
Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.
Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
- O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.
Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.
Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?
Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto" pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro"?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.
Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: "E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!". Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer "Desculpe meu querido, mas já que é um afro-descendente, é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!" Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra "preto" ou "macaco", que são palavras tão horríveis.
Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus "defendidos" .
Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, sou ítalo-descendente. Italianos não escravizaram africanos no Brasil. Vieram pra cá e, assim como os pretos, trabalharam na lavoura. A diferença é que Escrava Isaura fez mais sucesso que Terra Nostra.
Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.
Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.
Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café-com-leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.
Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo "negro" ou "afro-descendente" , tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça - a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita "100% humano", pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão.
(Danilo Gentili)
domingo, 23 de maio de 2010
Vontade de fazer bobiça...
Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir pudim de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido. Um só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um pudim bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca,de aventuras pela metade.. A gente sai pra jantar, mas come pouco.Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil')..
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta. Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo. Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.
Deixar de lado a régua,
o compasso,
a bússola,
a balança
e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim inteiro um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . . .
(Martha Medeiros)
O tempo é infinito
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Quando estamos prontos...
Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada.
Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de
completar o que nos falta.
A gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia é só mais agradável.
Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.
Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais
amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.
Vivemos num mundo onde precisamos nos esconder para fazer amor... enquanto a violência é praticada em plena luz do dia.
Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente.
Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.
(John Lennon)
Viver, viver, viver... enquanto é possível!

NAVEGUE.
Descubra tesouros.
Mas não os retire do fundo do mar.
O lugar deles é lá.
ADMIRE A LUA.
Sonhe com ela.
Mas não queira trazê-la para a Terra.
CURTA O SOL.
Se deixe acariciar por ele.
Mas lembre-se que seu calor é para todos.
SONHE COM AS ESTRELAS.
Apenas sonhe.
Elas só podem brilhar no céu.
NÃO TENTE DETER O VENTO.
Ele precisa correr por toda parte.
Ele tem pressa de chegar.
NÃO APRESSE A CHUVA.
Ela quer cair e molhar muitos rostos.
Não pode molhar só o seu.
AS LÁGRIMAS?
Não as seque.
Elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
O SORRISO?
Esse deve se segurar.
Não o deixe ir embora.
Agarre-o!
QUEM VOCÊ AMA?
Guarde dentro de um porta jóias.
Tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui.
A mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda.
Se o século vira.
CONSERVE A VONTADE DE VIVER.
Não se chega à parte alguma sem ela.
ABRA TODAS AS JANELAS QUE ENCONTRAR.
E as portas também.
PERSIGA UM SONHO.
Não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma com AMOR.
Cure suas feridas com CARINHO.
DESCUBRA-SE TODOS OS DIAS.
Deixe-se levar pelas vontades.
Mas não enlouqueça por elas.
PROCURE.
Sempre procure o fim de uma história.
Seja ela qual for.
DÊ SORRISO PARA QUEM ESQUECEU-SE COMO SE FAZ ISSO.
Olhe para o lado.
Alguém precisa de você.
ABASTEÇA SEU CORAÇÃO DE FÉ.
Não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo.
Só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
PROCURE OS SEUS CAMINHOS.
Mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se.
Volte atrás.
Peça perdão!
NÃO SE ACOSTUME COM O QUE NÃO O FAZ FELIZ.
Revolte-se quando julgar necessário.
ALAGUE SEU CORAÇÃO DE ESPERANÇAS.
Mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar.
VOLTE!
Se perceber que precisa seguir.
SIGA!
Se estiver tudo errado.
COMECE NOVAMENTE!
Se estiver tudo certo.
CONTINUE!
Se sentir saudades.
MATE-A!
Se perder um amor.
NÃO SE PERCA!
Se achá-lo.
SEGURE-O!
Circunta-te de rosas.
AMA.
BEBE.
E CALA.
O MAIS É NADA.
(Fernando Pessoa)
terça-feira, 18 de maio de 2010
A Páscoa da Terra crucificada
A páscoa é uma festa comum a judeus e a cristãos e encerra uma metáfora da atual situação da Terra, nossa devastada morada comum. Etimologicmente, páscoa significa passagem da escravidão para a liberdade e da morte para a vida. O Planeta como um todo está passando por uma severa páscoa. Estamos dentro de um processo acelerado de perda: de ar, de solos, de água, de florestas, de gelos, de oceanos, de biodiversidade e de sustentabilidade do própro sistema-Terra. Assistimos estarrecidos aos terremotos no Haiti e no Chile, seguidos de tsunamis. Como se relaciona tudo isso com a Terra? Quando as perdas vão parar? Ou para onde nos poderão conduzir? Podemos esperar como na Páscoa que após a sexta-feira santa de paixão e morte, irrompe sempre nova vida e ressurreição?
Precisamos de um olhar retrospectivo sobre a história da Terra para lançarmos alguma luz sobre a crise atual. Antes de mais nada, cumpre reconhecer que terremotos e devastações são recorrentes na história geológica do Planeta. Existe uma “taxa de extinção de fundo” que ocorre no processo normal da evolução. Espécies existem por milhões e milhões de anos e depois desparecem. É como um indivíduo que nasce, vive por algum tempo e morre. A extinção é o destino dos indivíduos e das espécies, também da nossa.
Mas além deste processo natural, existem as extinções em massa. A Terra, segundo geólogos, teria passado por 15 grandes extinções desta natureza. Duas foram especialmente graves. A primeira ocorrida há 245 milhões de anos por ocasião da ruptura de Pangéia, aquela continente único que se fragmentou e deu origem aos atuais continentes. O evento foi tão devastador que teria dizimado entre 75-95% das espécies de vida então existentes. Por debaixo dos continentes continuam ativas as placas tectônicas, se chocando umas com as outras, se sobrepondo ou se afastando, movimento chamado de deriva continental, responsável pelos terremotos.
A segunda ocorreu há 65 milhões de anos, causada por alterações climáticas, subida do nivel do mar e arquecimento, eventos provocados por um asteróide de 9,6 km caido na América Central. Provocou incêndios infernais, maremotos, gases venenosos e longo obscurecimento do sol. Os dinossauros que por 133 milhões de anos dominavam, soberanos, sobre a Terra, desapareceram totalmente bem como 50% das espécies vivas. A Terra precisou de dez milhões de anos para se refazer totalmente. Mas permitiu uma radiação de biodiversidade como jamais antes na história. O nosso ancestral que vivia na copa das árvores, se alimentando de flores, tremendo de medo dos dinossauros, pôde descer à terra e fazer seu percurso que culminou no que somos hoje.
Cientistas (Ward, Ehrlich, Lovelock, Myers e outros) sustentam que está em curso um outra grande extinção que se iniciou há uns 2,5 millhões e anos quando extensas geleiras começaram a cobrir parte do Planeta, alterando os climas e os níveis do mar. Ela se acelerou enormemente com o surgimento de um verdadeiro meteoro rasante que é o ser humano através de sua sistemática intervenção no sistema-Terra, particularmente nos últimos séculos. Peter Ward (O fim da evolução, 1977, p.268) refere que esta extinção em massa se nota claramente no Brasil que nos últimos 35 anos está extinguindo definitivamente quatro espécies por dia. E termina advertindo:”um gigantesco desastre ecológico nos aguarda”.
O que nos causa crise de sentido é a existência dos terremotos que destroem tudo e dizimam milhares de pessoas como no Haiti e no Chile. E aqui humildemente temos que aceitar a Terra assim como é, ora mãe generosa, ora madrasta cruel. Ela segue mecanismos cegos de suas forças geológicas. Ela nos ignora, por isso os tsunamis e cataclismos são aterradoras. Mas nos passa informações. Nossa missão de seres inteligentes é descodificá-las para evitar danos ou usá-las em nosso benefício. Os animais captam tais informações e antes de um tsunami fogem para lugares altos. Talvez nós outrora, sabíamos captá-las e nos defendíamos. Hoje perdemos esta capacidade. Mas para suprir nossa insuficiência, está ai a ciência. Ela pode descodificar as informações que previamente a Terra nos passa e nos sugerir estratégias de autodefesa e salvamento.
Como somos a própria Terra que tem consciência e inteligência, estamos ainda na fase juvenil, com pouco aprendizado. Estamos ingressando na fase adulta, aprendendo melhor como manejar as energias da Terra e do cosmos. Então a Terra, através de nosso saber, deixará que seus mecanismos sejam destrutivos. Todos vamos ainda crescer, aprender e amadurecer.
A Terra pende da cruz. Temos que tirá-la de lá e ressuscitá-la. Então celebraremos uma páscoa verdadeira, e nos será permitido desejar: feliz Páscoa.
(Leonardo Boff)
O Pequeno Príncipe - Ensaio
Em um livro escrito há mais de 50 anos encontramos muito mais que uma ficção como alguns pensam ou, apenas um livro com lindos pensamento. Exupery ao escrever esse livro tinha outra visão e conceitos sobre eventos e acontecimentos em sua época.
Ensaio sobre o Pequeno Príncipe
O Pequeno Príncipe não é apenas um livro com teor filosófico ou ficcional, deve ser encarado com maior profundidade, assim como os tratados sobre o Estado, sobre as relações humanas, sobre a felicidade, sobre a amizade, sobre as palavras.
A perspectiva do livro são os anos de 1940 a 1944, quando foi escrito, daí ser importante não perder contato com a história do momento em que surge O Pequeno Príncipe, momento esse, de grandes transformações na Europa.
Nesse cenário de guerra é construído O Pequeno Príncipe, que beira a iniciativa crítica do livro O Príncipe, de Maquiavel. Ao expor a fronteira entre Maquiavel e Exupéry, não se busca similaridade do nome, ou circunstâncias que os aproximem, a comparação é entre o escrito de um e outro autor. Há encontros em lados opostos, de um e de outro texto, razão da relevância de um estudo mais apurado, crítico e analítico.
Tratando O Pequeno Príncipe, com denodado esforço para afirmar um Estado onde o cidadão seja tratado como ser humano e não apenas como uma máquina de guerra surge a emblemática frase “Quando o mistério é impressionante demais, a gente não ousa desobedecer”. Assim era e tem sido a postura de governar, “mistério”, não há uma forma consciente de governabilidade, e pior, quando se chega ao tão sonhado “poder”, se deslumbra e foge a régia regra, em que um poder deveria advir do povo. Ora, se o poder deveria evidenciar a vontade do povo, quem deveria ser consultado para as mais importantes decisões e mudanças provocadas na sociedade?
Utopia, a palavra a ser pensada agora não é de todo remota ao texto, mas há de se dizer que o povo sabe a hora de dizer não a muitas coisas, foi assim no passado, pode ser assim no futuro. A história universal confirma que os grandes movimentos de mudança aconteceram com a negativa do povo a uma forma não racional de governar.
No encontro do pequeno príncipe com o rei há um valioso diálogo entre o personagem central e o monarca apontando para esse raciocínio:
“- Ah! Eis meu súdito! – exclamou o rei ao ver o visitante.
E o principezinho perguntou a si mesmo:
Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu?
Ele não sabia que, para os reis, o mundo é muito mais simples. Todos os homens são súditos” .
Num diálogo simples, porém arguto, usando da fronteira mais curta possível, o encontro de ambos os personagens transmite uma vertente interessante: um súdito não questiona seu rei, apenas obedece. Neste exato momento, mesmo pueril, encontramos o pensamento do principezinho: “Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu?”. O término do pensamento é glorioso: “Todos os homens são súditos”. Isso no fim é o importante para o monarca: estar nas suas terras é imediatamente ser súdito dele.
Um simples mortal, ao pensar nesse conjunto de palavras expostas, há de se perguntar: basta ter nascido em determinado espaço de terra e já me torno súdito? A resposta só pode passar pela afirmação. O homem é nada mais num reino senão apenas um pagador de impostos, e, numa carência grande da palavra menos chocante para nossos tempos, é simplesmente um súdito.
E um súdito que deve ter como seu único dever ser correto, pagando todos os impostos e taxas advindas de sua existência no local onde vive. Aprendendo, sua vida se resume a isso.
No livro O Pequeno Príncipe, há uma viagem de descobertas, nas quais se vislumbram os ensinos traçados e enviesados pela mente desse personagem inquieto. Em conversa com o rei, o pequeno príncipe diz adorar ver o pôr do sol , e pede em forma de favor que lhe proporcione ver um ao seu comando.O soberano responde:
“- Se eu ordenasse a meu general voar de uma flor a outra como borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformar-se numa gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem, ele ou eu, estaria errado?”.
A pergunta pertinente do rei mostra uma perspicácia interessante sobre dar ordem, e esperar ser ela obedecida sem que passe pelo possível, realizável, razoável, e carregue em si um inquestionável comando a ser cumprido. O príncipe, de pronto, diz ao monarca que ele está errado. Ao prosseguir o diálogo, o soberano afirma:
“Exato. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar - replicou o rei – A autoridade se baseia na razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance no mar, todos se rebelarão. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis”.
É preciso analisar a que se refere o rei, “exigir de cada um o que pode dar”, por uma questão de fazer ver se em algum dia da história da humanidade os líderes tribais, reis, imperadores se firmaram apenas nesta questão: não ir além do que o súdito pode oferecer. Conferindo a história, não encontramos em qualquer período um bom-senso assim, mas, sim, exploração do mais alto grau a um limite sem precedente, a cada novo poder ao se levantar, surge então a pérola desse diálogo do rei com o príncipe, quando este oferece ao pequeno visitante o cargo de ministro da Justiça, e a pronta resposta é: “- Mas não há ninguém para julgar!”.
Surge então a pretensão mais astuta de um governante:
“- Tu julgarás a ti mesmo – respondeu-lhe o rei. – É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio”.
Julgar, uma das questões mais cruciais e de maior demanda de tempo num reino. Porque dela se espera a chamada justiça que, na cabeça dos súditos, assume multiplicidade de valores pessoais nem sempre contemplados pela norma vigente. O que de verdade as pessoas querem num julgamento? O que é a justiça para elas? Qual o elenco de normas que devem ser aplicadas? Justiça, julgar, julgamento requer muito tempo e qualquer rei não quer perder seu tempo com questões pequenas, soluções rápidas acalmam os súditos, isso no final é o importante: mantê-los calmos para as fundamentais tarefas num reino, trabalhar, produzir, pagar impostos, produzir mais e pagar mais.
Numa mudança brusca de tema, o pequeno príncipe conhece um empresário. Percebe ser ele muito ocupado em fazer contas e não perde tempo nem em acender o cigarro, demonstra não ser adepto de futilidades e se diz ser sério. Sua conta é tão alta, chamando a atenção do principal personagem: “- Quinhentos milhões de quê?”, e como seu costume era nunca desistir de uma pergunta já feita, o empresário não vê outra saída se- não responder:
“- Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu.
- Moscas?
- Não, não. Essas coisinhas que brilham.
- Vagalumes?
- Também não. Essas coisinhas douradas que fazem sonhar os preguiçosos. Mas eu sou uma pessoa séria! Não tenho tempo para divagações”.
Surge então a discussão sobre o possuir as estrelas, em que não há uma compreensão do pequeno príncipe, uma vez ser sua mente voltada para coisas efêmeras. Um brilho sutil se reflete na mente daqueles que, a exemplo do pequeno príncipe, sonham com o efêmero das coisas. Mas surge desse encontro uma ideia daqueles sonhadores apenas de riquezas, não se importando com o quê, nem como, querem ser ricos custe o que custar. Vivem num mundo mais calcado na vantagem de um “poder” aparente para os efêmeros, mas muito real em sociedades que se baseiam no quanto, nos números de coisas angariadas e constroem sobre isso uma sociedade dos aceitos e dos rejeitados, onde há a materialização dos sonhos, cumpre lembrar, o mesmo empresário diz sobre esse tipo de sonhadores de estrelas: “fazem sonhar os preguiçosos”. Não há como negar que a frase do empresário possui em si mesma uma aparente ironia, as estrelas sabem muito bem de sua fala.
Segue em sua jornada e depara-se com um acendedor de lampiões, um trabalho de sentido, cumpria seus propósitos e tinha regulamento, acender e apagar o lampião. Segue-se um diálogo:
“E tornou acender.
- Mas tornou de acendê-lo de novo?
- É o regulamento – respondeu o acendedor.
- Eu não compreendo – disse o príncipe.
- Não é para compreender – disse o acendedor – Regulamento é regulamento. Bom dia”.
No questionamento de não entender o porquê daquela forma de agir, sempre e sem parar, a explicação mais simples foi “regulamento é regulamento”, extrai-se daí, estranhamente, como deve funcionar o compromisso do funcionário com seu empregador, este é o regulamento, seguirei sem perguntar o porquê. Seria possível encontrar tal empregado que só para manter seu trabalho se permitisse regulamentos os mais difíceis possíveis? Uma discussão intermitente se daria se tal fato acontecesse, pois, evidente seria que o empregado, além de compreender o regulamento, teria que se adiantar a qualquer mudança e questionar se não há espaço para diálogo, assim sendo, poderia se chegar num bom senso comum de ajuste. Seria possível existir também tal reino?
Num reino assim, os dias durariam um minuto e em trinta minutos um mês já teria passado. Medida de tempo, respeitada como o acendedor respeitava, não lhe sobrava tempo a não ser para aquele único trabalho e mais nada. Viver essa medida de tempo, não ser inventivo para dentro do regulamento seguido nem arrumar um tempo, parece não envolver o acendedor e na conclusão do principezinho: “ser o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio”. Seria possível encontrar alguém preocupado com os outros e as outras coisas e não consigo próprio?
O próximo a ser visitado pelo príncipe é o geógrafo, que possuía livros enormes, e, ao ver o principezinho, exclama ser um explorador! Mas como os outros visitados, as perguntas vicejam e as respostas também, explicação de ser um geógrafo: um especialista em saber onde se encontram mares, montanhas, rios, cidades, desertos. Porém, com todo conhecimento do geógrafo, ele não podia dizer se existiam em seu planeta rios, mares, montanhas e muitas outras coisas. Explica também o tamanho do problema que poderia haver se os exploradores não fossem confiáveis, testados e inquiridos, imagine, uma montanha fora de seu lugar exato, um rio seguindo outra direção, o deserto ser o mar, grande confusão se formaria, a ponto de não serem precisas as explicações dadas. Como é próprio de os livros anotarem mapas, locais, e depois se perceber ser nada daquilo real, houve trocas gritantes. Conhecer o terreno, ou para onde se vai, é importante para quem deseja chegar, afinal, ainda que abstratamente a ideia de se chegar a algum lugar, em um momento da vida, num aspecto do tempo, tenha a sua importância.
O pequeno príncipe se ocupa em chegar a lugares e conhecer pessoas para confrontá-las, para aprender, ver, observar. Por isso, chegou ao planeta Terra. Viu em sua chegada um planeta enorme, comparado aos que já havia passado. Encontra-se com a serpente e pergunta onde exatamente está e se depara com o deserto, onde não há muitas pessoas. E fala:
“- A gente se sente um pouco só no deserto.
- Entre os homens a gente também se sente – disse a serpente”.
Solidão, tema absoluto do livro exposto, mexe em pontos soltos da vida solitária, de um reino habitado, mas apenas em sua superfície. Há um vazio mal resolvido, pouco mencionado, para quem sabe que o sentido de tudo que fazemos é um pouco mais real. O professor Márcio Pugliese afirma “o homem não é um ser para viver só”. Há um senso de procura, de refúgio, de desejo, que vai além do possível a ser compreendido em nossa mente. Obscura fica a vida num vazio constantemente preenchido apenas com a sensação incômoda da solidão. Não há necessidade de se estar sozinho para se estar só, pode-se estar numa multidão para se sentir em solidão. A companhia de alguém produz uma enorme dose de alegria para quem está sempre só. Se houver o ajuntamento de amigos, de uma porção de pessoas no desejo de se conhecerem, aí haverá uma explosão de alegria.
Próximo a essa constatação, chega-se ao ponto mais conhecido do livro, e com menor compreensão geral: o encontro com a raposa. Numa conversa aberta e franca se discute sobre cativar. O tema tratado como algo além do complemento do vazio merece a compreensão através do próprio texto:
“- Que quer dizer cativar?
- Eu procuro amigos. Que quer dizer cativar?
- É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. – Significa criar laços “...
“Criar laços”, o poder desta pequena frase imputa à atmosfera algo maior, importante, um verdadeiro tratado nesse ponto sobre a amizade. Não há lojas de amigos, nem forma de comercializar a amizade, falta tempo para estar com amigos, sobra medo de criar laços para se cativar. “ Se tu queres um amigo, cativa-me.”
O que segue é a mais pura demonstração da arte de cativar amigos, cultivando-os por tempo indeterminado. Encontro, tempo para conversar, escolha do local certo, marcar locais especiais. Amizade sincera, sem interesse, busca do tempo “nós”. Inspirador e renovador.
Nesta viagem às páginas do livro O Pequeno Príncipe, ângulos diferentes poderiam ser descobertos, visitados. Entendemos ser um livro político em sua estrutura maior, mas não se dispensa a questão das descobertas de como é conviver com outras pessoas, o que não foge nem um pouco da política, uma vez ser ela em sua essência a prática de convivência com a sociedade.
Há uma frase que merece ser citada e se ter um pouco mais de atenção:
“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.
Tratar do tema sobre o coração, algo próximo ao amor fraterno, físico, ou familiar é uma das tarefas difíceis em nossos dias, pois, falta-nos ver além do conhecido. E este ver bem com o coração, introduz um ver bem que só o coração pode enxergar. E fica mais curioso perceber que “o essencial é invisível aos olhos”. Essencial, essência é o que há de mais puro no que se procura. Se for num perfume, as essências são as que podem produzir muitos outros perfumes. Se for numa pessoa, é o mais profundo que se encontra no íntimo, o que não é revelado para ninguém, apenas “só se vê com o coração”. A invisibilidade é ver com quem se está verdadeiramente, ver não só a aparência, chegar à essência, não procurá-la. Esse é um verdadeiro segredo, enxergar bem com o coração, abstrair o desnecessário, para poder adentrar no essencial, invisível a qualquer tipo de olhar. Eis aí um grande desafio, chegar à essência.
Fim para um novo começo.
(Marcos Antonio Duarte Silva)
terça-feira, 11 de maio de 2010
Afinal, aonde eu quero chegar?
Sempre acreditei que as escolhas que eu faço hoje vão me tornar a pessoa que serei amanhã. Ledo engano. Aprendi que primeiro eu tenho que saber o que eu quero ser amanhã, para balizar minhas escolhas HOJE. Acontecia que eu escolhia, escolhia, mas na verdade não sabia aonde queria chegar e, como dizia o gato de Alice nos País das Maravilhas: “pra quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve”.
Mudar é um assunto que está na “crista da onda”. Em toda revista de negócios lê-se sobre mudança, em todo livro de sucesso aborda-se o tema mudança, em quase toda conversa formal ou informal fala-se sobre mudança. Mas mudar só por mudar?! Isso não vale de nada. Tem gente que vive brincando de erro e acerto, como se fosse possível “jogar” com a vida.
A mudança, sob o meu ponto de vista, deve estar intimamente ligada a um propósito. O que eu quero alcançar fazendo isso desse jeito? Aonde quero chegar alterando a rota?
Provações diárias o farão perceber se você está ou no caminho certo, afinal há sempre a opção de desistir, e quando se quebra um paradigma tudo volta ao zero.
Existe uma pequena distância que separa o sonho da realização e essa distância não está no TENTAR. Ela está no sonhar e no realizar! Sonhar com a cabeça nas nuvens e os pés no chão, como diria meu amigo César Souza. Consciente de quem você é, do que você quer e do que precisa fazer e conquistar para chegar aonde se quer. Realizar não só com coragem, nem sempre de peito aberto, mas realizar na direção do sonho, de forma íntegra e baseada em valores que te guiem durante o trajeto.
Muito se fala em segredo... Não existe segredo para encurtar a distância que separa o sonho da realidade. O segredo para mim pode ser traduzido numa frase de Mário Quintana que diz que “O segredo não é correr atrás das borboletas, e sim cuidar do seu jardim para que elas venham até ele.”
A felicidade é uma meta para você? Para mim ela não é uma estação de chegada, mas um modo de viajar.
(Carolina Manciola)
A Canoa

Em um largo rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora. Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta ao barqueiro: Companheiro, você entende de leis? Não, respondeu o barqueiro. E o advogado compadecido: É pena, você perdeu metade da vida. A professora muito social, entra na conversa: Seu barqueiro, você sabe ler e escrever? Também não, respondeu o barqueiro. Que pena! Condói-se a mestra- Você perdeu metade de sua vida! Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco. O barqueiro preocupado, pergunta: Vocês sabem nadar? NÃO! Responderam eles rapidamente. Então é uma pena - Conclui o barqueiro. Vocês perderam toda a vida.
Não há saber maior ou saber menor.
Há saberes diferentes.
Pense nisso e valorize todas as pessoas com as quais tenha contato.
Cada uma delas tem algo de diferente para ensinar..
(Paulo Freire)